terça-feira, 20 de março de 2012

mea culpa

Que pecado mais mortal pode cometer um historiador do que deixar a citação de uma fonte de escanteio, como objeto de relevância menor?! Pois foi o que fiz logo no inicio do post 'justificativas'. E cometi uma falha duplamente grave. Como historiadora e como respeitadora do trabalho de uma querida amiga. Em primeiro lugar, explico: na ocasião da postagem eu dei uma resumida geral da justificativa do projeto, para tornar a leitura mais dinâmica. Só percebi que fiz besteira quando alguém leu aquele conteúdo e me perguntou "Mas quem é essa Ermínia?" Reli e me dei conta de que havia suprimido coisas demais em nome dessa velocidade internética... Pensando na fluidez da leitura, reduzi parte do conteúdo ao quase simplório.

Agora, como retratação, segue a citação completa que figurava na minha justificativa enviada à Funarte.

"Ficava cada vez mais claro, pelos depoimentos, que uma determinada forma de viver no circo estava desaparecendo, e que um outro circense estava nascendo. [...] constatação quase unânime, tanto por parte dos circenses, quanto da bibliografia sobre o circo, de que houve uma ruptura nessa transmissão [de conhecimentos], que resulta em um "novo" circo, com outro tipo de relação de trabalho." Ermínia Silva, O circo: sua arte e seus saberes. Campinas, 1996. p.5

E, respondendo a pergunta do referido leitor: Ermínia é Doutora em História Social da Cultura pela Unicamp com a Tese de Doutorado: As múltiplas linguagens na teatralidade circense. Benjamim de Oliveira e o circo-teatro no Brasil no final do século XIX e início do XX, fevereiro de 2003. Essa tese foi publicada como livro posteriormente. Em 2007, se não me engano. E a citação mencionada acima é do seu mestrado, também defendido na Unicamp. Eu tomei contato com o trabalho dela por causa do meu interesse nessa pesquisa. Depois tive oportunidade de trabalhar com ela no "nec - núcleo de estudos do circo". Esse núcleo foi fundado por duas estudantes da Puc, que também se relacionavam com essa linguagem circense, a Fabíola Salles e a Juliana Porto. Como a proposta era boa, a coisa cresceu e agregou mais pessoas, como eu. O "nec" durou o suficiente para aprendermos muita coisa, realizou ótimas palestras, tanto na Central do Circo como no Espaço Piolin, na Galeria Olido, onde hoje funciona o Centro de Memória do Circo. Ali pertinho do 'café dos artistas', sabe? É, o "nec" durou o que tinha que durar e me permitiu conhecer a Ermínia! E muitas outras pessoas supimpas.

Agora, já que coloquei aqui uma pequena citação de uma mulher que figura entre as precursoras brasileiras na pesquisa sobre o circo, escolhi mais duas mulheres importantes para esta pesquisa e vou apresentá-las aqui com citações.

"Hoje, as escolas de circo têm a função de transmitir esses conhecimentos, devido à desagregação de várias famílias circenses, causada por fatores políticos, sociais e econômicos da sociedade moderna" Eliene B. A. Costa, Saltimbancos Urbanos – A influencia do circo na renovação do teatro brasileiro nas décadas de 80 e 90.  Tese de doutorado apresentada ao Dpto. de Artes Cênicas da ECA - Universidade de São Paulo, 1999. p.21

Essa tese foi um dos primeiros materiais que li lá na Eca, quando comecei a pesquisa. E, em seguida, ainda nos primórdios de minhas buscas, achei por aí um pequeno livro de capa azul, com cara de antigo, escrito por uma circense, que me fez perceber uma coisa que eu não havia notado antes. Os fundadores da Academia Piolin, não esperavam criar um novo perfil de circenses, mas cuidar de dar formação aos filhos de circenses que já não apreendiam as vivências necessárias para a formação de um artista. Cuidar da arte em si, simplesmente. Percebi essas expectativas lendo o seguinte: 

“Os circos pequenos da periferia devem ser insistentemente atendidos. (...) Os filhos dos artistas devem ser insistentemente convidados para participarem do movimento de incentivo profissional." Dirce Tangará Militello, Picadeiro. São Paulo: Edições Guarida Produções Artísticas, 1978, pp. 7 e 86.

De lá pra cá, muita mais foi lido, relido, esta sendo revisto novamente e... Claro, esse post foi mais pela retratação do que pela reflexão. Mas breves citações as vezes já servem para colocar uma pulguinha atrás da orelha. Obrigada a todos, sempre, pela atenção e compreensão. E, nesse caso, obrigada especialmente à todas e todos que deixaram marcas no caminho para que eu as observasse em algum momento!

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